Michael Moore, <br>cartas do Iraque e do Afeganistão
Michael Moore, homem da escrita, do cinema e da televisão, odiado e amado nos Estados Unidos, é conhecido, entre outros trabalhos, por Roger and Me e o soberbo Bowling for Columbine, filme anti-armamentista, com o qual conquistou, em 2002, o Oscar da Academia de Hollywood para o Melhor Documentário, o prémio do Festival Internacional de Cannes e o César da Academia de Cinematografia Francesa. É igualmente o autor de Stupid White Men, uma visão demolidora da sociedade consumista dos Estados Unidos, onde não são poucas as críticas a Bush e a tudo o que ele representa como símbolo da política belicista do complexo militar-industrial sedeado em Washington. Stupid... foi escrito pouco antes do 11 de Setembro, acto terrorista que, mais tarde, lhe inspiraria Fahrenheit 9/11, documentário igualmente premiado.
Este mesmo autor, que o New York Times não duvida em apontar como possuidor de «um talento incrível para abrir caminho através do lixo na procura de assuntos importantes», acaba de publicar um conjunto de cartas que lhe foram enviadas por soldados estadunidenses em serviço no Iraque e no Afeganistão – e também por alguns familiares dos mesmos – onde fica patente a «profunda desilusão com a qual contemplam a sua missão nesses países asiáticos».
A «valentia» de Rumsfeld...
Desde a já tristemente célebre Abu Ghraib, um filho conta à mãe a sua visão de uma visita de Donald Rumsfeld: «Havia uma dezena de helicópteros armados a protegê-lo, carros blindados e um helicóptero presidencial: toda a gente lhe chamou maric.... Isto não aparece nas notícias, mas deveria. Os militares que estão no campo de batalha consideram o Rumsfeld um maric.... Odeiam-no».
Fahrenheit 11/9 parece ter sido decisivo para que alguns soldados tenham aberto os olhos. «Depois de ver esse documentário, não penso voltar uma segunda vez ao Iraque. É possível que me prendam, que me destituam e até que me executem, já que isso está contemplado no Código Militar».
À medida que vai crescendo o número de soldados mortos nas duas frentes de batalha, e sobretudo no Iraque, aumenta igualmente, até mesmo entre as patentes militares mais elevadas, a consciência de que se trata de uma guerra injusta que só interessa aos monopólios e nada de bom promete ao povo dos Estados Unidos.
«Esta guerra fraudulenta – comenta um oficial – é o maior erro militar jamais cometido na história deste país e por ela estão a morrer os meus soldados. E isto sem falar dos civis iraquianos, que morrem sem culpa alguma, e sem que ninguém fale deles». Outro militar, um sargento, pede uma razão para apoiar o seu chefe enquanto os seus irmãos e irmãs de armas «morrem numa guerra que não parece perseguir outra coisa que capital e poder».
Estão são alguma das cartas recebidas por Michael Moore. Nelas está espelhado o moral de umas tropas que se sabem invasoras e parte de um exército de agressão. Neste momento, Bush não só não está a ganhar a guerra no Iraque como está a perder a batalha pela opinião pública dentro do seu próprio país.
Cada caixão que chega aos Estados Unidos, por muito sigilosamente que o faça, multiplica as vozes da dissidência. Pouco antes do começo da guerra, o autor de The Awful Truth – série de televisão que Los Angeles Times classificou como a «sátira política mais cómica e divertida» – numa carta enviada ao inquilino da Casa Branca destacava que dos «535 membros do congresso, só UM (o senador Jhonson) tem um filho ou uma filha no exército, e advertia que o único perigo que ameaçava a América eram os dois milhões e meio de estadunidenses provocados pela política económica de Bush e que esta era uma guerra – outra – na qual não «teria de lutar pessoalmente», do mesmo modo que se deu como AWOL[1] – ausente do posto de combate sem licença – enquanto os pobres eram enviados para o Vietname no seu lugar.
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[1] Absent Without Official License
Este mesmo autor, que o New York Times não duvida em apontar como possuidor de «um talento incrível para abrir caminho através do lixo na procura de assuntos importantes», acaba de publicar um conjunto de cartas que lhe foram enviadas por soldados estadunidenses em serviço no Iraque e no Afeganistão – e também por alguns familiares dos mesmos – onde fica patente a «profunda desilusão com a qual contemplam a sua missão nesses países asiáticos».
A «valentia» de Rumsfeld...
Desde a já tristemente célebre Abu Ghraib, um filho conta à mãe a sua visão de uma visita de Donald Rumsfeld: «Havia uma dezena de helicópteros armados a protegê-lo, carros blindados e um helicóptero presidencial: toda a gente lhe chamou maric.... Isto não aparece nas notícias, mas deveria. Os militares que estão no campo de batalha consideram o Rumsfeld um maric.... Odeiam-no».
Fahrenheit 11/9 parece ter sido decisivo para que alguns soldados tenham aberto os olhos. «Depois de ver esse documentário, não penso voltar uma segunda vez ao Iraque. É possível que me prendam, que me destituam e até que me executem, já que isso está contemplado no Código Militar».
À medida que vai crescendo o número de soldados mortos nas duas frentes de batalha, e sobretudo no Iraque, aumenta igualmente, até mesmo entre as patentes militares mais elevadas, a consciência de que se trata de uma guerra injusta que só interessa aos monopólios e nada de bom promete ao povo dos Estados Unidos.
«Esta guerra fraudulenta – comenta um oficial – é o maior erro militar jamais cometido na história deste país e por ela estão a morrer os meus soldados. E isto sem falar dos civis iraquianos, que morrem sem culpa alguma, e sem que ninguém fale deles». Outro militar, um sargento, pede uma razão para apoiar o seu chefe enquanto os seus irmãos e irmãs de armas «morrem numa guerra que não parece perseguir outra coisa que capital e poder».
Estão são alguma das cartas recebidas por Michael Moore. Nelas está espelhado o moral de umas tropas que se sabem invasoras e parte de um exército de agressão. Neste momento, Bush não só não está a ganhar a guerra no Iraque como está a perder a batalha pela opinião pública dentro do seu próprio país.
Cada caixão que chega aos Estados Unidos, por muito sigilosamente que o faça, multiplica as vozes da dissidência. Pouco antes do começo da guerra, o autor de The Awful Truth – série de televisão que Los Angeles Times classificou como a «sátira política mais cómica e divertida» – numa carta enviada ao inquilino da Casa Branca destacava que dos «535 membros do congresso, só UM (o senador Jhonson) tem um filho ou uma filha no exército, e advertia que o único perigo que ameaçava a América eram os dois milhões e meio de estadunidenses provocados pela política económica de Bush e que esta era uma guerra – outra – na qual não «teria de lutar pessoalmente», do mesmo modo que se deu como AWOL[1] – ausente do posto de combate sem licença – enquanto os pobres eram enviados para o Vietname no seu lugar.
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[1] Absent Without Official License